O planeta Terra é pressuposto para a vida, não só a humana, mas todo o tipo de vida, desde a microscópica até aquelas que identificamos no dia a dia. Ao longo da história mundial, o ser humano quase sempre foi um predador, que se porta como se tudo o que existe é para sua fruição e gozo, não medindo consequências sobre os danos que causa ao meio ambiente e principalmente causa aos seus semelhantes. Se sempre foi assim, hoje é pior, porque são maiores os meios e a tecnologia de agressão ao ecossistema e às pessoas.
As décadas finais do século passado foram marcadas pelo despertar ecológico e pela conscientização de que se deteriorarmos o mundo estaremos condenando a vida em geral e a humanidade em particular a uma catástrofe da qual não se sabe, se houver sobreviventes, quantos sobreviverão. Contraditoriamente, quando as demonstrações científicas nos mostram que marchamos a passos céleres para o apocalipse, surgem vozes de lideranças políticas/religiosas exponenciais negando a possibilidade do holocausto e pregando a lei de mercado, que manda explorar tudo e todos e sacrificá-los do altar do deus dinheiro. Fala-se em crise de autoridade, quando o que existe é crise de humanidade, falta sentimento de solidariedade e de empatia para com os outros. Não interessa se causa poluição, o importante é o lucro. Saúde e educação passaram a ser mercadoria cara. A segurança é privilégio de quem pode pagar. Milhões de pessoas com fome, sobrevivendo abaixo da linha da dignidade de animais, mas o discurso que mais se dissemina é o de ódio contra aqueles que nos são diferentes. A cultura da violência como forma de persuadir e governar traz embutida uma concepção narcisista-destrutiva de que a vida do outro não vale nada.
Este verão está marcado, como o foram os mais recentes, por um calor infernal. Mas não é só, as estações do ano já não são mais identificadas por suas temperaturas. Em pleno inverno pode nevar ou fazer calor como se fosse o mais forte mês de verão. Negar isto é impossível. O mundo está com seu termostato avariado. Cabe-nos, com a tecnologia de que dispomos, buscar as causas e tentar evitá-las. O paradoxo, entretanto, é que "figuras de destaque" negam os efeitos (como se fosse possível negar as temperaturas, altos graus de poluição, assoreamento de rios, suba do nível do mar, degelo da calota polar) e pregam acelerar a exploração em nome do lucro.
Esta vontade de explorar ao extremo, mesmo ao custo da vida na terra, tem seu epicentro nos Estados Unidos, onde seu presidente verbaliza e promete fazer de tudo para negar evidências científicas e justificar sua sanha de esgotar todos os recursos possíveis do planeta e submeter os "povos inferiores" ao seu jugo. Países satélites de órbitas errantes não se apercebem que pertencem ao time dos explorados pelo Tio Sam e fazem genuflexão diante dele e batem palmas e vergonhosamente adotam as mesmas práticas, na esperança de serem convidados para o baile financeiro, mas jamais o serão, continuarão sendo vistos como exóticos, servis e massa de manobra. Tio Sam é tratado por alguns idólatras como um semideus e como tal não se mistura aos mortais.
O Brasil está embalado na onda de reduzir os controles ambientais para gerar recursos financeiros, de desumanizar as relações de trabalho em nome do lucro, de aperfeiçoar os ganhos de empresas de saúde sem se preocupar com quem não tem recursos, de elitizar o ensino evitando possibilidade de mobilidade social pelo estudo. Do jeito que se encaminham as coisas a vida humana vale tanto quanto uma vela, que só tem valor enquanto pode gerar luz para aumentar a produção, depois é descartável.